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Udo Wahlbrink: "Ainda que eu morra, esta luta continuará"

10/12/2012
06/05/2015
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Ainda que eu morra,

esta luta continuará.

[caption id="attachment_993" align="aligncenter" width="300"] Udo durante Conferência Mundial do Setor Lácteo da UITA. Buenos Aires, 2010.[/caption]

Udo nasceu a 46 anos no Rio Grande do Sul. Tem dois filhos e a 28 anos vive em Rondônia. É presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais dos municípios de Vilhena e Chupinguaia, afiliado a Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). No final de abril do corrente ano foi preso, e junto a ele, centenas de famílias foram desalojadas de terras em disputa ocupadas a mais de 20 anos. Recentemente liberado,  relatou para Sirel seus meses de prisão e, sobretudo, as razões de sua luta incansável.

 

Quais foram as acusações das prisões?

O pano de fundo é uma disputa de terras públicas. Fomos presos porque aqui a justiça apoia quem tem dinheiro: os fazendeiros. Nosso Sindicato atua nos municípios de Vilhena e Chupinguaia onde temos 170 mil hectares de terra fiscal.

Numa parte delas há milhares de famílias trabalhadoras rurais, algumas das quais vivem ali a mais de 20 anos, outras um pouco menos. Agora que a área foi desbravada, que se cultiva, que se construíram casas e galpões, obras hídricas, aparece a justiça ordenando a destruição de tudo isso para entregar as terras aos supostos donos que são os mesmos fazendeiros de sempre.

Por que supostos donos?

Porque eles receberam essas terras durante a ditadura militar com varias condições cujo descumprimento anulava a posse.

A mais de 30 anos que o INCRA deveria ter recuperado essas terras formalmente, mas eles se valem de que não foi feito e de uma justiça corrupta para nos expulsarem de nossas casas.

E o que aconteceu com você?

Como presidente do Sindicato de Trabalhadores na Agricultura eu estava organizando estas pessoas, participando em contatos nacionais e negociações para demarcar essas terras para as famílias, e devido a isso, a muito tempo me tornei uma ameaça para os fazendeiros.

A partir daí, fiquei marcado para morrer, e me fizerem saber disso em varias oportunidades. Mas eu não fui o único ameaçado. Me disseram que minha morte não seria por bala, mas sim por algum acidente. Em outra oportunidade atiraram três vezes contra mim, mas não acertaram. A partir desse momento, como a justiça e a Polícia não me protegem, comecei a levar comigo minha arma.

Quem são os que te ameaçam?

Pistoleiros a mando dos fazendeiros. Tem absoluta impunidade. Andam junto a Polícia, inclusive temos os nomes dos policiais que fornecem armas e munições a estes mercenários.

E eles não param. No mesmo dia que saí da prisão comecei a ser seguido por vários deles.

Agora estão te seguindo?

Sim. Estão aí fora do Sindicato. Mas essa é uma luta que só vai acabar até que haja uma justiça que não seja a do rico em detrimento do pobre. Inclusive se me matarem, a luta vai seguir.

Por que te prenderam?

Depois que nos desalojaram, nós voltamos a entrar nos prédios, e novos incidentes aconteceram. Foi violento. Os policiais mataram os animais a tiros, ameaçavam as crianças com suas armas para que dissessem onde estavam os seus pais.

Eu estava armado quando me prenderam. De nada adiantou que tivesse os documentos da arma, já que é de minha propriedade a mais de 20 anos, ainda que nunca a tenha usado.

Como foi a prisão?

Foi muito dura. Me bateram muito durante dois dias, sobretudo na cabeça. Me obrigavam a ficar deitado na cela com a cabeça no chão. Achei que minha cabeça fosse explodir. Me bateram tanto que perdi parte da visão. Passei mais de um mês com febre sem receber nenhum medicamento e comecei a perder o cabelo. Emagreci 20 kg. Fiquei num estado miserável.

Como fazia para cuidar da febre?

Entrava em baixo da água fria. Não podia fazer outra cosa, mas me mantinha de pé. Havia agentes penitenciários que recebiam dinheiro para me mal tratar, humilhar, ameaçar de morte de maneira constante. A tortura psicológica era permanente. Foi muito duro e espero que haja sido útil para chamar a atenção sobre nossa justa luta.

Agradeço muito a preocupação da Rel-UITA que deu difusão internacional a nosso caso. Quem luta pela gente simples, pelos mais débeis, merece respeito, e isso nunca mudará. Temos que seguir mostrando força desde nossa organização nacional e internacional.

Finalmente o Supremo Tribunal de Justiça te libertou a 15 dias…

Sim, graças a atuação constante da CUT e CONTAG fui liberado. Mas nesse mesmo dia o fiscal deste município formalizou uma nova denuncia na qual me acusa de vários delitos e pede que me condenem a 18 anos de cadeia.

Qual o nome dele?

Se chama Eliseo... não lembro o sobrenome. Trata-se de um fiscal corrupto que a poucos anos foi acusado de pedofilia, mas a Polícia nunca investigou realmente o caso. Está a serviço dos fazendeiros.

Então você continuará na luta?

Já estou na luta. Saí da prisão e já estou participando nas reuniões do Sindicato, mas a juíza que me mandou para a prisão emitiu uma ordem de restrição contra mim, de forma que não posso sair do município, não posso participar em reuniões fora daqui.

Eu deveria ir amanhã ao Ministério Público Federal para dar o meu testemunho sobre tudo isso, mas não me permitem viajar. Deveria participar de uma reunião em Porto Velho, mas não me permitem. Estão querendo me desanimar, me isolar, de travar tudo o que puderem, mas não vão conseguir.

Antes de terminar, quero enviar uma saudação sindical a todos e todas da Rel-UITA. Sei que posso contar com eles, assim como podem contar comigo.

Fonte: Rel-UITA (http://www.rel-uita.org/agricultura/reforma_agraria/con_udo.htm)

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